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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Memórias de um beijo

Nem sempre é fácil descrevermos aqueles de quem mais gostamos. Não porque não saibamos as suas qualidades mas porque conhecemos os seus defeitos e aos nossos olhos nos parecem sempre menores e sem qualquer importância. Resistimos anos, sempre na mesma frequência, acreditando que um dia a coisa há-de mudar, arranjar-se, permitir aquele encontro que o destino, por qualquer motivo invisível aos nossos olhos, nos parece querer esconder.

Toda a mulher encontra um dia o seu herói...

Lá em casa todos temos uma qualquer fixação por relógios. Uns porque mostram o tempo que falta para alguma coisa, outros porque mostram o tempo que passou desde qualquer momento especial, e eu simplesmente porque gosto de os ouvir tocar. O toque são as palavras que ele não pode dizer. São a sua expressão do tempo que é sempre igual dentro de si desde o momento em que lhe deram corda pela primeira vez.

Sou uma fã de relógios, como objecto decorativo. Não sou uma escrava do tempo mas um relógio de bom gosto chama-me sempre a atenção. O bom gosto de alguém consegue comunicar através de um simples relógio. Mas um relógio não chega para definir ninguém assim como o tempo nunca chegará para descrever alguém a quem consideramos herói.

Começa-se por uma simples alteração do ar que nos circunda, e muitas vezes nem damos logo por isso, mas tudo fica muito mais leve ao nosso redor. Depois descobrimos um brilho diferente naquele olhar, uma clareza nos dentes que se descobrem pelo adelgaçar dos labios que se separam autónomos, quando um sorriso basta para nos preencher. E só depois é que chega o resto... e é aqui que reside a diferença, toda a diferença. É no toque perfeito e rítmico como se fosse um relógio, que nos faz dar horas e horas de felicidade , que teima em não nos abandonar. É a doce sensação do encontro, para que vivemos dia após dia, na esperança de um pouco mais daquilo que nos embriaga sem ingerirmos mais nada a não ser momentos. Só momentos.

Sempre que me lembro de ti vem-me à memória aquela canção... lembras-me uma marcha de Lisboa, num desfile singular...quem foi quem disse que o mar dos olhos também sabe a sal...
Bem sei que não me lembro dela nas bandas sonoras da nossa vida, mas já faz tanto tempo que começou esta corrida que às vezes até me esqueço que os verdes anos duram sempre enquanto a tua abelha não se fartar de procurar o meu mel. E o Outono não virá, no lugar da Primavera.

Nem sempre é fácil descrevermos aqueles de quem mais gostamos. Não porque não saibamos as suas qualidades mas porque conhecemos os seus defeitos e aos nossos olhos nos parecem sempre menores e sem qualquer importância... e sabes ? Continuas a ser o meu herói, mesmo que as voltas da vida nem sempre assim o desejem...

4 comentários:

  1. Com os nossos heróis, somos cegos aos seus defeitos...
    Belíssima prosa, gostei muito.
    Não me tinha apercebido que tinhas mais blogues (eu esqueci). O facto é que só tenho 1 nos meus links...
    Um beijo, querida amiga.

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  2. Nilson meu querido :)

    Tenho este, o loualma.pt e o conversasdebica.pt e todos os outros que tu já conheces :) . Beijinhos amigo

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  3. Escreves tão bem! Adorei o texto.
    A minha heroína (apesar de já não estar comigo fisicamente) é-o porque, sendo humana, tinha os seus defeitos e quem não os tem não é real é ilusão. Mas os defeitos da minha heroína comparados com as suas grandes (enormes) qualidades não tinham qualquer relevância.
    Contudo, quando a descrevo friso, obviamente, as suas qualidades. Porque sou humana e amo-a, e quando amamos... (refiro-me à minha mãe).

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    Respostas
    1. ... quando amamos até os defeitos , em determinadas perspectivas até se tornam qualidades. :) eu sei bem do que falas.

      Obrigada ! Beijinhos

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