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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A queda

Embelezar o que nos vai por dentro e trazê-lo cá para fora para que se transforme em música que ajude outros a dançar, nem sempre é fácil ( descomplicar o que nos é dificil aceitar, nunca será fácil!). Pensando assim sorria. Batia de frente com as pedras do caminho, provocando mazelas, que não se vendo, era fácil fingir que não existiam. Um dia, pensando ter apenas mais uma pedra no caminho, não viu o buraco. A queda foi vertiginosa. Não via nada, apenas o som do eco da sua própria voz misturado com a sensação de falta de chão enquanto algumas superficies duras lhe feriam o corpo na descida.  Estranhamente o chão que lhe aparou a queda não era duro. Pelo contrário, pelo toque podia distinguir a maciez , talvez fosse areia (?) não! seria algodão (?) Talvez a queda não fosse a descer mas a subir e estivesse nas nuvens... não via nada, confiava apenas nos sentidos e na imaginação, mas a sensação era prazeirosa. Ao longe, o som da música parecia dizer-lhe para onde seguir. Esqueceu-se do que havia antes da queda. Esqueceu-se de tudo. A vida passou a ser apenas a busca pela luz que lhe permitisse perceber onde se encontrava. Talvez, aqui, também o porquê fosse importante, mas para quê um porquê se já ali estava ? No momento em que a música parou, deixou de ter ponto de referência...sentou-se. O chão continuou macio, fofo, acolhedor, mas até isso pareceu esquecer-se, deixou de fazer sentido. Chamaram ao buraco a grande depressão. Eram contas que não lhe passavam pela cabeça, a descontar naquele chão que parecia não querer deixar que se afundasse mais. Mas a luz não vinha... Um dia, decidiu não esperar mais. Levantou-se e reunindo as poucas forças que ainda pareciam restar, pôs os pés ao caminho. Acordou com os primeiros raios de sol da manhã a entrarem pelas frinchas da janela e sentiu saudades! Estava cansada... a sensação macia que que lhe recordava o seu chão chegou-se ao seu corpo. Não estava sozinha, nunca esteve. Há tanta coisa que os olhos não conseguem ver...mas descomplicar o que nos é dificil aceitar, nem sempre é fácil!

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