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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Das coisas que mudam com o passar dos anos

Sou adepta ferrenha da cuequinha, a estrear, azul, para passar o ano ( ou lingerie se quiserem uma versão mais in) . Talvez seja a lingerie a última grande resistente do glamour que eu via nas passagens de ano. Sempre adorei os festejos de passagem. Não sei se era a esperança que me injectavam, se a vontade de fazer mais e melhor ou se este gosto por festas e rituais já nasce connosco.

Desde a época em que as passava em casa com a avó "Vicenta" que me habituei à ideia que nos festejos de ano novo era para ser festa a valer. Houve um ano em que me lembro de passar colada à televisão, que emitia em directo de Tróia   onde estariam os meus pais. Lembro-me do espanto de ver os mergulhos na piscina do bico das lulas, em plena madrugada, os homens totalmente vestidos a atirarem-se das pranchas em voo para a piscina. Oh avó, p'ra qué aquilo? ??? Sei lá filha...olha, é tudo doido!
Mas aquela loucura saudável ficou-me no olho e muitos anos depois também eu quis experimentar a sensação da festa.

A minha primeira passagem de ano fora de casa foi exactamente no bico das lulas. Ainda me lembro da mesa, do amigo que foi de brincadeira  numa festa diferente, e que nunca mais vi. As senhoras de fatos brilhantes e jóias, os senhores de fato e laço ou gravata, eu com uns sapatos a estrear, roupa a estrear, tudo a estrear até as sensações, música e dança até doer as pernas, até o sol nascer. Diziam que se aguentasse podia ser. Não aguentei. Não me lembro de mais nenhuma nos anos que se seguiram.
Lembro-me da primeira passagem  sem os pais por perto. Guardo várias lembranças dessa noite, mas sobretudo da pergunta da minha mãe no dia seguinte: então, tens a boca a saber a papel de música? ( mas porque raio havia a minha boca de saber a papel de música? ) Nesse dia não sabia, mas soube uns anos depois. Excessos de juventude!

Depois pegou a moda dos Algarves, tanto, que juro que já largava Albufeira e IRS pelos olhos, naquela época era como se Grândola se mudasse por uns dias mais para sul. De tal forma que, nos últimos anos ameaçava aos mais próximos: se me convidam novamente para ir para Albufeira eu mordo. Não mordia e ia invariavelmente acabar por ir parar algures entre Monte Choro, Vilamoura  ou Albufeira.

Agora que penso nisso, tenho até saudades dos tempos em que a passagem de ano começava a 29 ou a 30 e acabava a dia 2.

Com a profissão veio a responsabilidade. Vieram os turnos. Com os filhos a indisponibilidade. É este o oitavo ano que trabalho a passagem de ano, nem sempre a noite, mas os dias não dão para a recuperação necessária que este tipo de festa já merece ( os distúrbios que o tempo nos faz ao orgasnismo, vejam bem...)  Ainda assim este continua a ser um tempo de balanços, de medições e agora também de saudades.
Um tempo de reflectir sobre o que espero, de perceber onde vou e para onde quero ir .

Tenho alguma saudade das festas, é verdade. Do dia do ano em que podíamos ( podemos ainda) esperar tudo, um novo futuro nas mãos. Mas agora  os fins de ano servem essencialmente para me olhar ao espelho e perguntar-me : Quo Vadis, sra?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Estamos mais pobres

Ficamos mais pobres quando isto acontece. Ainda bem que há quem olhe para o problema com vontade de o resolver. Gosto de pessoas assim. Eu própria sou um pouco assim também. Lia um destes dias, a propósito do que aconteceu no sol que, se queremos salvar os jornais, temos que os comprar. 

Percebo isso. Mas percebo bem melhor a parte que me toca. Fui sempre leitora assídua da sábado ou da visão, alternadas, dependendo da capa semanal. Também cheguei a comprar uma outra ( de que já não me recordo o nome) quando o Vítor lá escrevia ( é sempre engraçado ler algo escrito por alguém que se conhece, para além do profissional) . Fui leitora assídua do expresso. 

O meu espectro de leitura aumentou com o galopar da internet. Depois chegou a crise. Desde 2010 que os jornais e as revistas entraram na parcela de despesa dispensável, depois os livros,  a seguir os espectáculos ( foram a minha última grande batalha, mas acabei por deixá-los cair , também a eles, com o risco de inverter as prioridades) . 

A verdade é que a internet compensa-me muito esta falta que sinto de saber o que se passa à minha volta. Por vezes, quando esbarro num artigo que me sugere o pagamento da assinatura para que possa ler o resto, ainda dou por mim a pensar se vale a pena. Mas depois a calculadora que me foi incutida na cabeça obriga-me a recusar essa despesa. Um pouco aqui, um pouco ali e quando se percebe gasta-se muito mais do que se deve, ou pode. 

 Assim ficamos mais pobres porque menos esclarecidos. Um mal necessário na conjuntura actual, mas que deve ser combatido. A verdade é que a liberdade de expressão advém muito do conhecimento que adquirimos. Ler algo e o seu contrário ajuda-nos a decidir, a tomar decisões, a definirmos-nos como cidadãos . O que somos, o que queremos ser. Procuro de todas as formas possíveis manter-me a par. Perceber o que pensam e porque pensam outros assim. 

Agrada-me que se procurem soluções. A informação é o maior e o melhor serviço público que se pode prestar. Deve ser feito por quem o sabe fazer. Ser cidadã permite-me que emita a minha opinião, mas a verdadeira informação deve ser dada por quem de direito. Eu só pego naquilo por que me interesso mais, mas a vida em sociedade é feita de muitos interesses e todos eles relevantes para alguém. Só aceitando isso ficaremos mais tolerantes. Só querendo saber, importando-nos com os outros, partilhando opiniões e saberes podemos evitar que outros sofram o mesmo que nós. 

Be free my friends

Viciada em coisas doces

Por agora, preocupada em desfazer os excessos do Natal. Como muitos sou viciada em açúcar e vê-lo transformado em tantas formas diferentes, agradáveis à vista não me permite resistir. Até porque, resistir sempre, a tudo, não me parece mentalmente saudável. Abusa-se, sabendo que depois é necessário voltar ao lugar. Até porque demasiados excessos também me deixam em sofrimento. Sou adepta ferrenha da moderação e quando me excedo desencadeio processos de auto-controlo que roçam o patológico. A minha vida resume-se a uma linha curva que ora supera, ora se inferioriza em relação ao rígido equilíbrio que , confesso, acho muito difícil de manter.  Pergunto-me se existirá alguém perfeitamente equilibrado em todas as ocasiões e respondo a mim própria que isso deve ser muito enfadonho.

O meu melhor substituto do açúcar é a fruta ( frutose). Está na altura de usar e abusar para não sentir a irresistível vontade de comer um bolinho. Depois passo às sopas em forma de sumo ( vulgares detox) e finalmente , quando olho ao espelho e percebo que o corpo não está a ir ao lugar como eu queria, lá me mentalizo que tenho que aumentar o esforço físico. É sempre igual. É sempre a mesma fórmula. Tem dado resultados, não me posso queixar. Talvez tenha a sorte de ter um metabolismo razoavelmente favorável. Talvez seja a mentalização, que em mim funciona bem.

Depois dos últimos anos, dou graças por ter a cabeça que tenho, a força mental que me permite resistir. Acabei por comprovar na 1a pessoa aquilo que passo o tempo a dizer aos "meus doentes" : É a cabeça que vence as maiores batalhas. A força de vontade é a nossa maior aliada. O resto são só obstáculos para comprovarem essa mesma força. 

( e devo ser a única alentejana à face da terra que não gosta de pêra manca)

sábado, 26 de dezembro de 2015

Um Natal completo

O tempo passa a correr ( todos sabemos de cor esta frase feita). O que é certo é que passa mesmo e outro Natal se passou. Mas este, foi um Natal diferente. Há quase tantos anos como aqueles que tem o meu filho mais velho, que não tinha um " Natal completo " . Sempre entre turnos, entre desgraças e  tristezas que não sendo minhas, me entraram pela porta da vida para que tivesse, também eu, um lugar dentro delas.

Não sei porque acontece mas eu gostava de saber qual o cruzamento cósmico que faz mais gente partir nesta altura. Provavelmente será apenas a nossa consciência que está mais virada para o bem, a felicidade e a paz, nesta altura,  e sempre nos entristece mais a partida, numa época em que seria suposto celebrármos a família. Ainda assim, acontece muito. Às vezes a fé ajuda a justificar e a manter a paz de espírito, qualquer que seja a fé.

Este Natal pude fazer parte da vida daqueles a quem chamo família e isso é um bem que pouca ou nenhuma descrição consegue ter. É o que é. Sentimo-nos sempre mais completos quando nos identificamos, quando fazemos parte, quando estamos lá. Isso não há dinheiro nenhum no mundo que pague. Não há nada que substitua a presença daqueles que a gente ama. Por mais que queiramos justificar, fica sempre a faltar uma parte de nós, quando não nos sentimos em casa. O amor é a mais bela parte de nós e sem ele nada do que por cá fazemos poderá ter algum sentido, sendo que esse amor pode materializar-se de muitas formas. É por isso que tenho orgulho em ser mãe, enfermeira, filha , irmã, tia, sobrinha, prima, amiga e todas as outras formas possíveis de distribuir um pouco de amor ao meu redor.

A vida é uma estrada enevoada que não nos mostra o lugar onde nos vai levar. E ainda bem!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Como salvar uma vida

Tinha preparado um post todo lindinho sobre a  festa de Natal da Ludoteca mas depois a vida tem destas coisas e decidi falar sobre uma coisa que me tem afligido nos últimos dias ( e as festas da Ludoteca - ainda bem - não são coisa rara e posso sempre falar sobre elas depois. Sobre isto talvez se perca o timing perfeito da reflexão) . 

Morreu um jovem em S. José. A morte é uma coisa não rara para quem trabalha em meio hospitalar. O que é mais doloroso é a morte que poderia ter sido evitada. É aqui que começa o " jogo perigoso". À partida, muitas mortes podem hoje ser evitadas. Mas só à partida. São tantos os factores que se cruzam neste jogo entre a vida e a morte que toda e qualquer decisão pode ter consequências fatais. Todos nós, que fazemos da saúde dos outros a nossa forma de "ganhar a vida" carregamos esse peso decisório nos ombros, todos. Temos consciência e temos responsabilidade. Temos até várias consequências na nossa vida pessoal, por demasiadas vezes pormos a vida dos outros à frente da nossa vida.  Esta e tantas outras mortes, talvez menos mediatizadas porque não num hospital de grande envergadura e na capital, foram consequência, não tanto de mau profissionalismo, mas sobretudo de uma má gestão dos poucos recursos que dispomos ( como país, sim, habituem-se, apesar do SNS ser um pequeno diamante, é um diamante que se alimenta de um fraco filão). Os profissionais de saúde não são voluntários, embora se disponibilizem tantas vezes a fazer mais horas do que a jornada prevê. Os profissionais de saúde não são desprovidos de sentimentos, temos é demasiadas tragédias em mãos e sabemos de antemão que a nossa capacidade humana é limitada e por muito que queiramos, não fazemos milagres. Morreu um jovem em São José, porque não havia uma equipa de neurocirurgia para operar. 
Imaginem um neurocirurgião. Alguém que estudou muitos anos, que tem que ter uma capacidade técnica, para além da teórica, muitissímo afinada. Afinal, ele corta num local que nos é vital. Sem cérebro, não somos nada, é o nosso disco rígido, o nosso arquivo, é aquele que comanda tudo o resto, cortar um milimetro a mais ou um milimetro a menos pode ser fatal. Agora imaginem a pressão que alguém sente quando sabe que um erro seu custa uma vida. A mão não pode tremer. Isto implica não poder tomar café, provavelmente não fazer umas boas noitadas com amigos... Muitas restrições para poder ter as suas capacidades no auge. Quanto vale a vida pessoal de alguém? ninguém sabe, mas as sucessivas tutelas dizem-nos que valemos pouco, nós os profissionais que abdicamos da nossa vida, pela melhor vida dos outros. Alguns jornalistas ajudam, porque é muito mais fácil, sempre, imputar a culpa em alguém que não está, mas deveria estar num determinado posto, do que tirar as ilações devidas. Deveria estar sim, mas é também um dever de quem sabe que ele lá deveria estar, saber dar-lhe o valor que ele tem por conseguir salvar vidas. De quem é a tal culpa então? 

Quando se exige algo, deve exigir-se a quem de direito. Não se pode exigir a profissionais que andam cansados, desmotivados e tantas vezes mal valorizados que abdiquem da sua vida pessoal, por um ordenado que não paga o investimento pessoal e monetário que fazem na sua formação, para poder saber ainda mais, ou seja, para salvar mais vidas. 

Tenho vários episódios partilháveis, mas este penso que ilustra bem o que aconteceu ao nosso SNS ( o bem mais precioso que a liberdade nos deu). Deve ter sido por alturas do Verão que é das alturas que  nossa população aumenta mais devido à proximidade da praia. Um casal com 2 filhos de férias perto de Odemira. Chegaram-me à triagem pediátrica exaustos e sem paciência. Um sorriso meu ( sempre, é preciso estar muito cansada e garanto-vos, nos últimos anos tenho estado muito) o melhor desbloqueador de "mau feitio" . Conversamos. Finalmente a pergunta: 2 horas sra enfermeira, demorámos 2 horas a chegar aqui. Fomos ao centro de saúde, como nos indicaram na linha da saúde 24 e de lá disseram-nos que teríamos que vir para aqui porque só aqui há pediatra. Foi difícil chegar aqui, tem pouca sinalização e não conhecemos os caminhos. Mas como é que as pessoas deste lugar fazem para ir ao pediatra? Lá lhes expliquei que ter acesso a um pediatra àquela hora só ali, de resto só consultórios privados em dias específicos e horas determinadas. Ironizei, como sempre: as crianças daqui não ficam doentes, ou se ficarem têm que ter dias específicos para isso. Não estamos habituados sra enfermeira, em Lisboa se quisermos temos uma série de hipóteses hospitalares e ainda os privados. 

Pois! 

E o jogo de vida e de morte, como será? 
Digam-me, é isto culpa dos profissionais? Será? Ter que fazer contas à vida dos outros, constantemente, decidir sob pressão quem é que se consegue salvar, é culpa dos profissionais? Coitados dos muitos que têm que carregar às costas, as culpas de não conseguir ser super-herói para fazer mais e melhor. Esta é que é a grande verdade: se os profissionais de saúde não estiverem capacitados para decidir com condições de segurança,  se o valor da sua dedicação não for reconhecido, quem é que vai abdicar da sua própria vida, da sua própria saúde, para salvar a vida de alguém? É que pessoas a morrer num hospital há todos os dias, todos os dias, e quase todos são família de alguém. Enquanto isso alguém decide como gastar o dinheiro, algures sentado num qualquer cadeirão almofadado. E é aqui que a sociedade tem que ser muito mais interventiva, na escolha de quem decide como gastar o dinheiro, e porque decide assim e não nos profissionais, que se "matam", para poder salvar a vida de alguém.

domingo, 20 de dezembro de 2015

My Force

Não podia deixar de ir ver. É o meu imaginário de aventuras. O meu Top Gun galáctico onde entram personagens mirabolantes, desertos e planetas gelados, droides (que nasceram muito antes dos nossos androides modernos) com diversas linguagens próprias - tão bom!!! A história é um "renovelar do mesmo novelo", mais do mesmo. Acredito que quem não gostou ou só apreciou não vá gostar. Mas para quem, como eu, sabe a 1ª saga quase de cor, ou até a 2ª ( que serviu para consolar o gosto) até podiam repetir o guião 500 vezes que eu ia gostar na mesma. Lá está, é a tal estória: quem gosta, gosta sempre! May the Force be with you


sábado, 19 de dezembro de 2015

Audições de Inverno

Escolhi as melhores por entre as muitas que tirei. Foi na quarta-feira aqui na terra. Tenho para mim que estou cada vez pior nisto das fotografias, mas ainda vou a tempo de melhorar ( talvez seja a falta de prática - lá vem de novo atrelada a falta de tempo livre). É a edição que me leva mais tempo e a "pitosguice" não ajuda num ecrã pequeno. De qualquer das formas conta como intenção de homenagear.

Gosto quando aposto numa qualquer decisão e ela sai proveitosa. Porque o que realmente importa, a meu ver, não é a repetição até à perfeição, mas aquilo que se consegue criar, com os instrumentos e os ensinamentos que nos dão. E as amizades que se vão plantando pelo caminho. Estiveram todos fantásticos, miúdos!






Enigma


Passei. 
Talvez um quarto da minha vida à espera. 
A pergunta certa nunca chegou. 
Na metade final percebo que não existem perguntas certas. 
Nem respostas erradas. 
Existimos apenas e nesse lapso complicam-se memórias
 com factos presentes,
 enganam-se os olhos com a imaginação. 
A simplicidade de um momento bom 
 rasgada por uma palavra errada 
Um enigma desnecessário

E se a pergunta for despropositada?

Simplifico, então (!?)
Os dias correm com a mesma velocidade
somos nós que os vemos diferentes
perspectivamos passos que não damos
momentos que não chegam 

No fundo
é tão fácil
refazer
num jogo simples de dar e receber
começas tu desta vez

Um dia ainda conto

como as histórias nos podem desencantar





quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Care.no



 
"Roubei" este filme daqui
Todos os princípios começam na educação.
Eu tenho oportunidade de fazer a diferença porque, ao contrário do que se pensa, acho que, tal como  se diz no vídeo, é a forma como se educam os rapazes que pode vir a fazer a diferença no futuro. Tentei sempre que o ser mulher não fosse um motivo para me sentir desprotegida. Talvez isso me tenha feito independente demais, mas...
 
  "I was born a girl, and I do everything I can so that wont stay the greatest danger of all"
 

 
 

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

As minhas músicas de Natal II - A clássica

Lembra-me o gira-discos que ainda funciona. A luz dentro do armário que se acendia assim que o abriamos, o som "tchac" que os discos faziam ao descer pela peça metálica e a agulha que os fazia cantar. O " coisinho" de limpar os discos com o seu veludo azul por baixo. Lembra-me o cheiro a lareira e o dia das decorações. Eu, em frente ao gira-discos a vê-los rodar e a cantar, mesmo sem saber as letras ou os significados. Lembra-me o pinheiro e os presentes embrulhados ao lado do presépio. Lembra-me sempre a minha avó, com o seu porte fechado assim que chegava Dezembro, que só lhe passava nos momentos da troca da incontornável lata de laca pela caixa de bombons, lembra-me a Carmem com o seu cabelo comprido a rodar ao som desta música, a Lúcia a rir, o sr Adriano e  o momento das barbies. Lembra-me tanta coisa que não conseguiria descrever aqui. Será sempre a minha música de Natal. Talvez seja daqui que me venha o " para o ano será melhor" .

E finalmente, muitos anos depois, já vi nevar 





segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

As minhas músicas de Natal

Nem consigo descrever bem o que sinto quando ouço esta música. Seria 95? 96? 97? Noite de Natal e fomos passa-la juntos, bem depois da meia noite familiar. Adrenalina. Há sensações que nos acompanham uma vida inteira. A sensação que se agarra a esta música é inesquecível e é isso que eu adoro na música.



Uma outra casa

Chamou-lhe o projecto casa na árvore. Eu pensei que, se fosse eu, dar-lhe-ia o mesmo nome. É disso que me lembro, da árvore e do conforto que senti lá dentro. Tenho, das memórias de infância, a lembrança de como gostaria de ter um lugar onde me refugiar e uma casa na árvore era, naquela altura, um lugar de brincadeiras que todos gostaríamos de ter. Encontrei-o anos depois, não para brincar, mas para me refugiar da falta de talento para a brincadeira. Para quem procura o refugio perfeito para se olhar ao espelho, recomendo.


domingo, 13 de dezembro de 2015

Não tenho título para isto

Em trabalhos. É assim que estamos agora. E se ele soubesse o quanto me custa ter que insistir para fazer melhor, fazia, só para me poupar ao sofrimento de ter que passar de novo pela escola primária. O pior de tudo é que já é a 3ª vez que lá ando. Vejo-lhe nos olhos a mesma vontade de fazer muitas outras coisas que lhe despertam mais atenção - mas estas são também importantes - sinto-lhe a frustração da trapalhice, que tão bem conheço, e passo por tudo de novo e sofro com isso. Hoje insisto. Porque mais descansada, porque com mais paciência, porque estou para aqui virada, hoje. Já vamos na 3ª linha do tempo entre apaga e faz outra vez. Birras e choro e frustração e no fim lá vai fazendo. Eu sofro, mas insisto, hoje insisto, porque é hoje, porque me sinto com coragem para fazer frente à frustração, sem perder a paciência. Ele faz, eu não toco em nada, não faço nada. Ele pensa e eu vou corrigindo e ele repete, refaz. Eu também, repito, refaço e tento levar em frente esta relação de amor/ódio que tenho com a escola. Não é nossa a culpa da escola não se adaptar a quem tem muita sede de conhecer o mundo de uma forma lúdica. A burocracia também faz parte da vida - o nosso calcanhar de Aquiles.

E hoje aprendi uma coisa nova e conheci alguém novo. E é isto que eu adoro na aprendizagem 


Romero Britto





sábado, 12 de dezembro de 2015

Pontos de luz



Tudo na vida se recicla. Pelo menos tudo o que nos é natural. O lixo não tem serventia, mas tantas vezes o que pensamos ser lixo, é afinal tão desejado num outro local qualquer. Lá está, é a perspectiva. Olho para a minha árvore e penso que somos companheiras de viagem há uns bons anos. De viagem, sim, que temos passado por muitos lugares, juntas, sempre nesta época. Reservo lugar para o mais importante, na base. À falta de tempo para mais ilumino-o, juntando-lhe o que mais gosto nesta época: a luz. Este é um tempo de luz, um tempo de esperança, um tempo de pensar que foi o mais frágil e indefeso, aquele que mudou o mundo ou pelo menos a perspectiva que havia dele até então. Continuo a pensar que a mensagem dele fui demasiado inovadora para o seu tempo, tanto que ainda hoje tentamos atingir-lhe, só os principios do que nos veio ensinar e mesmo assim tentando, ainda não conseguimos. A paz, o perdão, o dar a outra face. Enchemo-nos de rituais ( necessários também) que tantas vezes ultrapassam os verdadeiros significados e colamo-nos ao desnecessário que nos impede de andar em frente. 

O Natal chegou ao meu ninho. Já tinha chegado antes, muito antes, quando finalmente senti que algo aqui me pertencia, como se o lugar tivesse estado, sempre, à minha espera. Só agora lhe dei o toque de época. Aguardo as boas novas, como quem sabe que a fé é o melhor alimento, o que nos permite continuar, mesmo após aquele que se julga ser o fim de todas as coisas.


Se um coração é grande, nenhuma ingratidão o fecha, nenhuma indiferença o cansa.” 

                                                                                                                                                                                           Tolstoi



quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Quando o sexo tem outro valor

Às vezes penso que a nossa visão de sociedade sofreu o enviesamento tal que, de modo geral, "os pensadores" nem se apercebem das barbaridades que dizem ( e aqui se pode incluir cada um de nós, sendo que muitas vezes depois de reflectir sobre o que dizemos poderemos e deveremos chegar à conclusão de que estamos errados). Li este texto e a minha primeira reacção foi querer ler o artigo completo. A conversa da discriminação de género ( para ser politicamente correcta e não incluir a palavra sexo) é tão antiga como o séc.. XX ou mais ainda já que o grande movimento para a igualdade entre os homens e as mulheres começou no séc. XIX .
 
 Em pleno séc. XXI economistas modernos continuam a discutir o problema da produtividade das mulheres. Mas discutem-no de uma forma simplista e a meu ver na única perspectiva que lhes interessa, a do lucro, o que leva a uma visão demasiado simplista da "coisa". Não discordo que uma mãe seja menos produtiva para uma empresa. O que eu discordo é da noção de produtividade.
 
Tenho para mim que a demasiada especialidade numa determinada área diminui a visão global e leva a conclusões demasiado simplistas que depois, na realidade, não são funcionais porque não prevêem outros factores importantes. Eu explico: é sabido, por estudos demográficos que (como é lógico) influenciam o equilíbrio económico dos países, que a "velha Europa" está a ficar isso mesmo, velha. Tem a ver com o aumento da esperança média de vida, com os melhores cuidados de saúde mas também com um outro problema, a baixa taxa de natalidade, ou seja, nascem hoje muito menos bebés do que antes. Isto deve-se para além de outros factores, sobretudo, à inserção das mulheres no mercado de trabalho, onde como se diz no artigo enquanto jovens as mulheres são tão produtivas como qualquer homem. São e gostam de o ser, porque a sensação de realização pessoal é muito importante na vida de qualquer pessoa.  
 
Isso leva a que prolonguem cada vez mais o seu dito "tempo de produtividade em que se sentem iguais" . Ora as sociedades evoluem mas a biologia demora muito mais tempo e pese embora a qualidade  dos cuidados de saúde ter aumentado muito, a verdade é que ser mãe aos 34 ou aos 44 é completamente diferente, traz riscos acrescidos para as crianças e sobretudo para as mães  com o consequente aumento do custo de uma gravidez para a sociedade ( primeiro problema na perspectiva económica).
 
Achei de um mau gosto extremo a afirmação " a baixa produtividade das mulheres com filhos contamina os salários das mulheres que não têm filhos" que me parece levar a que qualquer dia estejam as mulheres sem filhos a lutar pela desqualificação das mulheres com filhos ( ... será que não existe já? pergunta de retórica...) levando a uma competição muito pouco saudável e a médio, longo prazo, desprestigiante para as organizações porque leva no limite a regras de deslealdade e um péssimo trabalho de equipa.
 
Voltando à perspectiva geral, o incentivo à natalidade é, e deve ser, uma politica de futuro para as sociedades europeias com o risco de se não as tomar a própria Europa perder a batalha da competitividade: o futuro são sempre as pessoas.
 
Ora, atacar o motivo da baixa produtividade das mães é um assunto sério. Mas não visto da forma como se vê neste artigo. É que, na realidade, a baixa produtividade das mães com filhos, não existe, é um mito! O que acontece é que uma mãe com filhos tem o dobro das horas de trabalho do que uma mãe sem filhos, e isto é uma realidade não porque as mães tenham " um indisfarçável sentimento de propriedade em relação aos bebés" mas porque a biologia assim o obriga - e aqui volto novamente às justificações económicas para que se perceba melhor : Um bebé , numa situação ideal, deveria ser amamentado a peito ( vulgo mama, que penso ainda não haver evolução suficiente para que sejam os pais a fazê-lo) durante pelo menos um ano. É sabido que isso nem sempre é possível mas seria o ideal, tem menos custos para a saúde e no limite para a sociedade, uma vez que a alimentação a leite materno exclusivo é muito mais saudável permitindo que a mãe transmita ao filho muita da sua resistência imunológica sendo que crianças alimentadas a leite materno têm menos probabilidade de desenvolver problemas como obesidade e outros futuros problemas metabólicos ( uma vacina natural, portanto). Em termos psicológicos a amamentação também é muito importante porque aumenta o vínculo e a segurança do bebé já que a presença e o contacto são muito importantes no desenvolvimento psico-motor da criança ( não que este vínculo não possa ser feito com o pai, o que acontece é que nem todos os pais têm a mesma disponibilidade mental para a percepção desta importância).
 
Sou a favor da igualdade da licença parental em relação à maternal, aliás sou a favor a que os pais possam decidir , em conjunto, qual dos dois deve ficar com a criança e os tempos que cada um deve ficar. O que não posso nunca é ser a favor da diminuição do tempo disponível para as crianças ou até que estas fiquem "abandonadas" porque os pais necessitam de trabalhar para viver. Uma sociedade como a Portuguesa, onde há tão poucos apoios ou suportes, onde as empresas não facilitam a maternidade, onde não se criam estruturas sociais para que os seus trabalhadores possam assumir a sua opção de ter filhos, é uma sociedade injusta, que caminha para a desigualdade e para a instabilidade social.
 
Quando os lucros de uma empresa se sobrepõem ao bem-estar de todos, essa empresa está num futuro talvez próximo, condenada ao insucesso por promoção de comportamentos desleais e desmotivação. É a escravização das pessoas pelo sucesso dos números, é aquilo que temos. O resultado está mais que à vista, basta olhar bem para o presente, para a actualidade da nossa Europa: instabilidade, recessão, insegurança, desmotivação. Os lucros em detrimento das pessoas e a produtividade vista na mera perspectiva laboral.
 
Os cidadãos não participam, porque no limite não têm disponibilidade mental nem viabilidade económica para o fazer, porque não vêm das entidades patronais uma real preocupação com o seu bem-estar e isto já para não falar no problema das mães solteiras, que "daria muito mais pano para mangas"!
 
No fundo, no fundo é Isto

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

The Gift

Não querendo fazer qualquer tipo de publicidade à instituição, faço-a à mensagem.




E aceitarmo-nos todos não seria a tão desejada boa nova?

A vela

A vela estava acesa e tremelicava a luz escassa que se derramava pela sala. Diria que lhe dava um ar medieval, à sala e à sensação que vestia por estar assim. A lareira ocupava a parede e ela sentada lá dentro segurava entre as mãos tremulas uma malga a transbordar de café quentinho. Não estava sozinha embora assim lhe parecesse. Afinal não era só a vela que iluminava a sala era também aquele enorme lume de chão e a  voz dos outros. Falava-se de quê? Não conseguia compreender mas nem tentava. Desistira à muito que tentar mostrar interesse por coisas que a enfastiavam. Eles falavam, todos, muito, em demasia lhe parecia. Ela entrara à muito dentro do fogo quente. Os olhos fixos teriam sido o seu ponto de entrada e não era ela que se aproximara do lume, foi o lume que entrou, dentro. Conversavam sobre a vida, o futuro, numa linguagem muda, que os outros trocando palavras comuns nunca chegariam a entender. Desconfio que nem deram por a vida que lhe ia por dentro enquanto se mantinha imóvel. Tantas vezes o mundo se passa mesmo ao nosso lado e não conseguimos nem pressenti-lo. Soube do passado e do futuro, dos planos e das ideias, soube coisas que se encaixam em contas prolongadas por muitos anos, sob subtracções de linhas terrestres e de mapas astrais. Foi o som do brinde que a despertou, brindavam a quê? Ah! sim á vida. Que vida? A vela apagou-se mas ninguém deu por isso porque a labareda na lareira continuava a iluminar e aquecer. Ela ficou só mais consciente, o resto seriam conversas que não interessariam a ninguém e de resto pouca gente entende as linhas com que se escreve a história do universo.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A última morada

O fundo do quintal dava para aquela que era a última morada de toda a gente. No quintal crescia um pouco de tudo, quase ao Deus dará. Não poderia dizer-se que o tamanho era a maior qualidade do que crescia, mas era bom e na sua pequenez tinha também alguma graça e doçura, se fosse essa a qualidade que deveria existir na produção. Olhava muitas vezes para o quintal, enquanto pensava que, fossem as coisas como fossem, daria, sempre que pudesse, o melhor que conseguisse. Conseguir em pleno não era, por assim dizer, a melhor das suas qualidades.
A casa era silenciosa e acolhedora o quanto baste para se sentir confortável. Apesar das frinchas, que completavam o seu complicado mecanismo de ar condicionado, o sitio era quente. Tinha uma paixão pela sua amostra de lareira e ainda assim isso não era suficiente para a acender todos os dias. O cansaço vence demasiadas vezes o amor que temos por qualquer coisa, seja lá isso o que for. Era o silêncio a grande porta de entrada para o seu lugar predilecto. O monitor da TV poderia estar ligado ou desligado, isso dependeria de quem estivesse por companhia e ainda assim conseguiria entrar. Entre o futuro e o passado há uma brecha que só percorre quem sabe o caminho. É nessa brecha que ela habita nos seus melhores momentos.  São as emoções, as recordações e aquilo que se sabe daquilo que se vê, que formam a grande massa com que construímos os sonhos e os sonhos, esses, são diferentes para todos nós. Nunca sonhara um quintal assim, mas achava-lhe piada à perfeição da pequenez. Tudo o que é pequeno tem graça, ouvia dizer vezes sem conta. Agora isso havia sido trazido da sua brecha de sonho. Gostava de lá morar muito mais vezes do que realmente acontece, mas a vida é um caminho que se faz quase em contínuo, com diminuição da visibilidade, como se fosse um conduzir no meio do nevoeiro: e mesmo assim ainda esperamos a chegada do D. Sebastião perdido.  
É nos dias em que não habita a brecha, os dias em que mais sofre. Talvez seja a saudade ou apenas a falta que sente daquilo que é para ela uma necessidade. Tanto quanto viver. Tanto quanto sonhar. Tanto quanto acreditar. O sitio não tem nome de rua mas o quintal dá para aquela que é a última morada de toda a gente.



 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Livros, há muitos!

Por estes dias, de cada vez que passo pela praça da República ( a nossa praça das palmeiras) e vejo o pobre Jacinto Nunes apontando friamente a sua obra ( lá para os lados do fim do mundo) sinto um certo desconsolo. Ele, engalanado desde há tanto na praça, com as suas palmeiras, parece-me agora demasiado a descoberto. Se é certo que as palmeiras criaram bicho e era melhor cortá-las antes que a doença alastrasse ( dúvida existencial - há alguma palmeira sem doença nesta terra? ) fica-me agora a questão: o que chamaremos agora à praça se já não tem as palmeiras? A árvore, plantada para o Natal, por agora, reconforta-me os ânimos e lembra-me que também eu tenho que montar a minha. Mais uma entre as tantas tarefas. Entretanto limito-me a tentar cumprir todas as minhas obrigações ( que são algumas e estão naquela fase de perda de prazo de validade e isso não pode ser!) e a tentar lutar contra a inaninação por perda de massa encefálica reutilizável. Preciso de ler, ler muito. Aguarda-me a feira do livro, na nossa biblioteca municipal. Tenho que lá ir, mas com a cabeça bem implantada acima do pescoço porque senão lá se vai o orçamento. É que por mim, como sempre, trazia os livros quase todos!